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Os Estados de hoje em dia tentam desesperadamente proteger suas respectivas moedas frente aos movimentos especulativos globais. Entretanto, são eles mesmos que degradam cada divisa a um mero valor aparente. O dinheiro alternativoO dinheiro é tão prático, pois pode substituir todos os bens e facilita enormemente a troca. Entretanto, o dinheiro é cunhado pelos Estados sob a ameaça de perder cada uma das relações que mantém com a realidade econômica. O dinheiro recebe uma marca com um determinado valor – para sempre. O valor permanece estampado, mas conseguimos cada vez menos arcar com ele. Embora os Estados tenham interesse na inflação, pois podem através dela amenizar mais facilmente suas dívidas, eles são de qualquer forma o endereço errado, quando se trata de conectar a moeda com a produção econômica. É premissa básica de uma trimembração social que o Estado entregue sua responsabilidade pela moeda para organizações econômicas. Os próprios Estados cuidarão para que o valor da divisa não alcance níveis muito baixos, nem extremamente elevados, que impeçam as exportações. O dinheiro só faz sentido quando há algo com o que trocar. O dinheiro tem, portanto, de ser criado onde existem os meios de produção correspondentes, isto é, onde as empresas recebem financiamento. E o mais importante: o dinheiro deve ser retirado de circulação quando os correspondentes meios de produção resultam inutilizáveis. E se por acaso estes não forem substituídos por novos meios de produção, não se poderá cunhar mais dinheiro novo. Cada nota, cada moeda, cada ativo, etc. necessitam ao mesmo tempo de um período de caducidade que corresponda com a vida útil do meio de produção representado. Daí se pode falar de um dinheiro alternativo. Entretanto, isso não deve ser confundido com a visão de Silvio Gesell, pois, a pesar de falar também de um envelhecimento do dinheiro, propunha uma abolição do interesse econômico. Não se trata de provocar uma desvalorização do conjunto da circulação monetária – 2% por trimestre, por exemplo – mas sim o contrário, renovar no momento oportuno o dinheiro velho e o dinheiro novo e não contemplar, portanto, uma perda de valor. Os dois enfoques não podem ser mais distintos, embora ambos utilizem as mesmas palavras. Para evitar essa confusão, podemos usar as palavras de Rudolf Steiner e falar de dinheiro com duração limitada. Anéis de troca na ArgentinaNa Argentina, onde a moeda abençoada oficialmente pelo Estado, entrou em colapso, a população criou moedas alternativas dentro das comunidades de anéis fundamentadas na auto-ajuda. Os argentinos simplesmente não querem ouvir mais nada sobre desvalorização monetária. E assim, a comunidade de troca somente se estende até onde a confiança mutua se manifesta e permanece, pelo menos a princípio protegida. A idéia de desenvolver efetivamente a moeda alternativa, chamada Crédito, resultou paradoxalmente um fracasso e também a moeda corrente legal. Após um início com êxito, teve de ser abandonada, pois foi objeto de uma falsificação massiva. Isso evidencia o fato de que uma economia alternativa deve ter, no início, uma escala pequena. Mas não com o objetivo de se isolar do resto do mundo, mas também de criar uma base de crédito sólida e confiável. Quando se estabelecer, podem conseqüentemente se integrar às comunidades de troca, que são em princípio regionais e constituem o eixo sobre o qual se constrói uma moeda alternativa mundial. Uma nova globalização desde a base, sem Estados que busquem somente seu próprio benefício através da instrumentalização de sua moeda. Um bom exemplo disso é o dólar. Os cidadãos norte-americanos devem um terço de seu bem-estar ao fato de que os cidadãos do mundo inteiro só podem comprar determinadas mercadorias em dólar. Para manter essa vantagem, o governo deste país não exita em ocupar um país como o Iraque, quando um tal Saddam Hussein torna pública sua intenção de não aceitar o dólar como moeda de pagamento do petróleo, mostrando-se, portanto, partidário do euro. Os argentinos, todavia, têm seu destino em suas próprias mãos. Em primeiro lugar, podem criar uma nova moeda que circule paralelamente à antiga e com a qual não se permite especular internacionalmente. Se os argentinos ultrapassarem o mero intercâmbio de bens e serviços e começarem a fazer grandes empréstimos de dinheiro alternativo, então deixarão de se perder questionando sobre um dinheiro de duração limitada. Por definição, o dinheiro de duração ilimitada pode se emprestar ilimitadamente. Com o dinheiro de duração limitada, o credor recupera o dinheiro do originário do mesmo ano no qual foi emprestado. Pode portanto comprar algo com ele. Entretanto, se o dinheiro é muito velho, não poderá mais ser emprestado. Assim se elimina o mecanismo dos interesses compostos, que, por exemplo, num prazo de 500 anos gera a partir de 10.000 dólares, um bilhão. Sob a dinâmica do dinheiro de duração ilimitada quebram-se completamente as diferentes economias. O Chiemgauer - uma moeda regionalUma empresa escolar em Prien, Alemanha, pertencente a uma escola Waldorf, introduziu recentemente uma moeda regional, o Chiemgauer. A proibição alemã de cunhar moedas foi contornada por meio da fundação de uma associação. Para ter autorização de se utilizar o Chiemgauer é necessário ser membro dessa associação, e não há custo nenhum para isso. O Chiemgauer é emitido com uma paridade de 1:1 com relação ao euro e perde a cada trimestre 2% de seu valor. Para evitar contas complicadas nas lojas, a cada três meses são impressas as notas com uma nova marca. Embora o Chiemgauer esteja fortemente influenciado pelos princípios de Silvio Gesell, esta iniciativa tem ao mesmo tempo relação com os elementos - muito menos simbólicos - próprios do conceito de dinheiro alternativo que a trimembração social apresenta. Dessa forma, uns 3% do saldo vai para um fundo social. Isso já aponta a terceira função do dinheiro, que além de suas funções habituais, compra e empréstimo, é também passível de doação. Dos diferentes usos, que haviam sido financiados até hoje através de impostos, se faria uma gestão melhor por meio das distribuições individuais de doações. Isso é, sobretudo, aplicável no âmbito cultural. Para este, deveria-se empregar diretamente o dinheiro envelhecido. As vantagens da mistura entre os princípios de Silvio Gesell e Rudolf Steiner é a de que todos os partidários de uma reforma monetária ganham a confiança que abarca a necessidade da doação. Isso é para muitos uma ampliação de horizontes. Seria evidentemente desejável a iniciativa paralela de desenvolver completamente o enfoque de Rudolf Steiner no qual o dinheiro não se desgasta paulatinamente, mas sim resulta de “duração limitada”. Poderia-se pensar que o dinheiro só poderia ser novamente renovado se colocado na conta de alguma instituição sem fins lucrativos. Uma moeda como o Chiemgauer pode ser introduzida de forma relativamente simples. Visto que o Chiemgauer foi estabelecido em pequena escala, não é necessário, por hora, atentar para possíveis falsificações. Não obstante, ainda não está absolutamente garantido que a moeda tenha êxito e que possa cair na ruína – como já o fez o Crédito na Argentina, o que é evidentemente motivo de preocupação. A partir daí é que existem as considerações do banco alternativo GLS-Ökobank para tornar possível contas bancárias em moeda regional e com ela poder pagar com cartões de crédito – e garantir a segurança frente a possíveis falsificações. Traductor: Olivia Girard
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