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Na virada do século e do milênio, a humanidade no curso de sua história evolutiva, vê-se diante de um desafio único; por um lado, da perspectiva de desenvolver por meio de uma colaboração econômica mundial, um cultivo da compreensão, do amor, da auto-estima mútua e da cooperação, por outro, do perigo de um "inferno na terra", criado por grupos de elite que fazem mau uso da globalização para suas finalidades. Com isso a humanidade encontra-se diante de uma decisão inevitável. A globalização levará a liberdade, paz e ao bem –estar ou se tornará uma máquina destrutiva? Os sintomas não são, absolutamente, encorajadores. A Elite da Globalização e as Conseqüências de um Crescimento UnilateralA elite da globalização compõe-se de "empresas transnacionais" (TNCs) e das instituições-chave, políticas e culturais, aliadas a elas. Dentre os 100 maiores empreendimentos econômicos em todo o mundo, há 51 TNCs, das quais cada uma é maior do que 140 países juntos. Por exemplo, a cadeia de lojas Wall–Mart em 1996 registrou um faturamento de 103 bilhões de dólares - mais do que o orçamento de alguns Estados "tigres" do Sudeste Asiático. Todo ano, cerca de 1000 representantes dos maiores empreendimentos do mundo encontram-se para o World Economic Forum (Fórum de Economia Mundial). As diretorias empresariais das TNCs, junto com seus convidados, chefes de governo e importantes representantes da mídia e de universidades, deliberam acerca do destino dos países. Esse fórum possivelmente é mais potente até mesmo do que as Nações Unidas, uma vez que os participantes controlam recursos no valor de trilhões de dólares. Mesmo que exteriormente sejam concorrentes entre si, todo ano encontram o tempo para determinarem juntos a sorte da terra. O surgimento de uma elite da globalização deforma para sua contra-imagem a integração econômica mundial em si desejável, porque somente os seus membros recebem vantagens. Com isso surge uma mistura perigosa de crises econômicas, ecológicas, culturais e políticas. E o dragão "elite da globalização" expande-se muito rapidamente - tão rapidamente, que milhões de pessoas no mundo inteiro têm dificuldade de poder desenvolver-se como indivíduos, sem impedimento, com dignidade e liberdade. O "Human Development Report" do programa de desenvolvimento das Nações Unidas (UNDP) para 1996 e 1997, aponta sucintamente para esse problema. Com base em dados empíricos autênticos, o UNDP adverte quanto algumas formas menos desejáveis de crescimento paralelas ao crescimento econômico:
Estas quatro formas de crescimento ainda, podem ser completadas pelo "crescimento da insensatez" que descreve as conseqüências das outras quatro formas de crescimento - violação da alma, doença, bem como a criatividade bloqueada: suicídio, violência, consumo de drogas, criminalidade e outros. Adversários da Civilização MicaélicaA globalização da elite é, sem dúvida, um sintoma de um problema muito mais profundo. Na antroposofia alude-se ao ano de 1998 (e aos anos seguintes) como o tempo em que as potências adversárias terão uma influência inusitadamente grande sobre a formação de uma civilização global. Rudolf Steiner advertiu quanto á possibilidade de no ano 1998 Sorat o demônio solar, mais uma vez tentar tirar a evolução humana de seu curso (depois de no ano 666 dC. Procurar, por meio de Gondischapur, inaugurar precocemente a era da ciência e da tecnologia materialistas e por volta do ano 1332 inspirar a destruição dos Templários, pelo que foi subtraído da humanidade o fundamento moral de uma economia mais espiritual às vésperas da alma da consciência). Steiner mostra ademais, que os seres arimânicos - sob a inspiração de Sorat- incrementarão os seus esforços de estender o materialismo sobre a terra. O elemento destruidor da elite da globalização é sintomático para a atividade das potências adversárias, que hoje inspiram muitas instituições econômicas, políticas e culturais totalitárias. Com isso a globalização da elite é uma caricatura do novo cosmopolitismo, de uma nova cultura espiritual, que Micael, o espírito dirigente da época quer realizar em nossos tempos. Steiner apontou para o fato de o próprio Micael ter sido a fonte de inspiração para a tentativa de realizar a trimembração social do organismo social na Europa (na época de Steiner). Steiner entendia a sociedade trimembrada como sendo o instrumento necessário á divina Sofia, por meio do qual ela poderia entrar na vida social e preparar a humanidade para o afluxo da substância de Cristo - agora e para além da sexta época cultural pós-atlântica. A trimembração do organismo social coloca a disposição da Sofia - no meio das forças mortais da globalização de cunho arimânico - os necessários recursos para aduzir á civilização micaélica as enormes energias da globalização. Enquanto, de uma maneira geral, a sociedade e com ela a vida humana, em seus detalhes, são reduzidas unilateralmente a aspectos econômicos, a trimembração frisa o desenvolvimento simultâneo da economia, da cultura e da política e isso no contexto de uma evolução humana sustentável e da preservação da natureza. Uma vida cultural e política sadia dessa maneira é uma medida eficaz contra um crescimento econômico unilateral, porque uma cultura espiritual é a fonte de justiça política e uma condição prévia essencial para a edificação de uma economia viva e produtiva. Movimento Antroposófico e GlobalizaçãoO movimento antroposófico em verdade, deveria ser o mais apropriado para promover o reconhecimento e a realização da trimembração em todo o mundo. Infelizmente, a grande maioria dos antropósofos da pouca atenção á eficiência da globalização. Mesmo que haja exceções, o problema da globalização mal foi mencionado nos últimos anos na maioria dos congressos antroposóficos. Muitos antropósofos tampouco dão atenção á organização comercial mundial (WTO) - e isso é o início da formação de um governo mundial de fato, o que significa um corpo estranho numa civilização micaélica. A falta de atenção ainda cai mais na vista, quando cientistas e ativistas não antroposóficos compreendem melhor o dragão da globalização, mas ainda captam os pontos de vista exteriores da trimembração e da sua necessidade. Um exemplo disso é o livro "Civil Society and Political Theory" (Sociedade Civil e Teoria Política) de Jean Cohen e Andrew Arato, que é uma das mais contundentes e abrangentes defesas da trimembração. Os autores examinam as obras de filósofos e politólogos para demonstrar porque a tridivisão da sociedade atual contém uma das mais importantes chaves para uma evolução humana e econômica sustentável. Além disso, esses cientistas e ativistas fazem mais que antropósofos para realizar a trimembração no mundo inteiro, por exemplo libertando a sociedade civil das "garras" do governo e da influência de empresas. Nesse sentido existem hoje muitas organizações de sociedades civis (CSO) e interligações em mais de 60 países. Não estando conscientes desses desenvolvimentos atuais importantes, faltam aos antropósofos as conexões estratégicas com correligionários não antroposóficos, o que seria urgentemente necessário. Diante do panorama de interligações sofisticadas pelas forças e instituições espirituais ocultas atrás da elite da globalização. No final do século, o movimento antroposófico apresenta-se , sem dúvida, como um mediador importante para a realização da trimembração como uma civilização micaélica, mas, está isolado e limitado por sua ineficiência. Em comparação a isso, os promotores de uma globalização da elite são eficazes, fortes e muito ativos. Deve ser frisado que muitos desses executivos de ponta não sabem que estão apoiando as potências adversárias. De fato, muitos deles acreditam que a sua política promove a liberalização e o desregulamento do bem-estar dos homens, em especial o dos consumidores. Para que tais forças volitivas potentes não conduzam ao fim da humanidade, a vida cultural tem de ser reforçada a tal ponto que as forças da globalização sejam dirigidas para o bem. Ás diversas instituições antroposóficas - por exemplo, as escolas Waldorf, ao trabalho médico e biodinâmico - compete nisso um papel chave. E os Secretários Gerais e representantes da antroposofia na região Ásia-Pacífico, em sua declaração de Manilla (1996), observaram: "Os nossos sucessos antroposóficos no passado baseavam-se nas iniciativas individuais, heróicas e pioneiras e na instalação de 'ilhas comunitárias', onde pudemos testar e aperfeiçoar os nossos conhecimentos e capacidades para a realização de iniciativas antroposóficas. Porém, sob as atuais condições alteradas da época (com relação à globalização), reconhecemos também a necessidade de unir essas futuras iniciativas sobre a base dos desafios, aos quais o espírito da época quer dirigir-se urgentemente." Também internamente o movimento antroposófico mundial está pouco preparado para sair-se bem no desafio da globalização. Somente poucas instituições antroposóficas importantes são trimembradas. Uma vez que, com relação á trimembração, o movimento antroposófico não realiza o que ele defende, tampouco possui uma autoridade moral para propagar a trimembração. Ademais, o movimento antroposófico está envolvido em discussões internas, perdendo de vista as grandes tarefa que tem pela frente no final do século XX. Um aspecto desse problema foi articulado claramente, em abril de 1995, por Dr. Hagen Biesatz, naquela época membro da diretoria da Sociedade Antroposófica Universal. Ele referiu-se ao significado do trabalho orgânico e incremento recíproco do centro (Dornach e Europa Central) e da periferia (todas as demais sociedades nacionais, grupos e indivíduos), do movimento antroposófico em todo o mundo. Surgem problemas no movimento antroposófico, quando a cooperação sadia do centro e da periferia estiver interrompida ou não funcionar. Tal fraqueza aponta para o cerne do problema de uma globalização elitista que se caracteriza como uma caricatura do princípio esotérico da harmonia do centro e da periferia: em vez de relações centro-periferia plenas de Cristo, dependências arimânicas, nas quais um centro dominante vence e absorve a vida e os recursos de uma periferia passiva e desamparada. Haverá uma Resposta Antroposófica Criativa?Refletindo sobre a nossa responsabilidade individual á questão colocada aqui, poderá ser uma ajuda lembrarmos de diversos enunciados de Rudolf Steiner, que se referem á cooperação dos antropósofos no final do século. "Pois sobre a Sociedade antroposófica paira uma sina: a sina de que muitos daqueles que hoje (em 1924, red.) estão na Sociedade Antroposófica terão de descer novamente para a terra até o final do século XXI, mas então unidos também com aqueles, que estiverem em posição de liderança na escola de Chartres. De modo que antes do final do século XX, para que a civilização não entre em decadência total, os platônicos de Chartres e os aristotélicos que vieram mais tarde têm de cooperar na terra." Aqui vemos nitidamente, que Rudolf Steiner esperava, que se desse uma espécie de culminação do movimento antroposófico no final do século XX. Tal culminação está ligada á capacidade de cooperação de diferentes correntes cármicas no âmbito do movimento antroposófico. Em outras palavras: Steiner esperava que, por meio dessa cooperação cármica, a antroposofia se tornasse um promotor cultural que compensasse a eficácia da moderna elite da globalização. "[...] Eu me preparo para essa nova era do século XX - é isso que uma autêntica alma de antropósofo diz a si mesmo. Pois há muitas forças destrutivas na Terra. Toda a vida cultural, toda a vida civilizatória da Terra têm de entrar em decadência se a espiritualidade do impulso de Micael não apreender os homens, se eles não estiverem em condições de elevar novamente o que na civilização de hoje tende a rolar para baixo. Se forem encontradas essa almas de antropósofos honestas que, desta maneira, querem levar a espiritualidade para a vida terrena, então haverá um movimento ascendente. Se não forem encontradas essas almas, a decadência continuará." Nisso, o Congresso de Natal revela um outro de seus múltiplos aspectos: a preparação para os grandes feitos, que tem de ser efetuado por todo antropósofo no final do século, e finalmente Rudolf Steiner nos exorta: "Algo [...] que deveríamos acolher nas nossas almas é a consciência de que, em sua parte mais essencial, o movimento antroposófico esta destinado, a continuar atuando - e a reaparecer, não apenas nas suas almas mais proeminentes e, sim, em quase todas as almas, no final do século XX, quando deve ser dado o grande impulso para a vida espiritual na Terra, porque de outro modo, a civilização terrena entrará em uma decadência cujas características já se mostram de modo bem evidente." O final do século já bate as nossas portas. O tempo para agir é agora! Felizmente já existem alguns indícios esperançosos dentro do movimento antroposófico que apontam para um certo acordar frente a esses desafios.
Resumo do ensaio "Globalization, Anthroposophy and the Threefold Social Order" do Jornal for Anthroposophy - nº 66 (primavera 1998) páginas 38 a 48.
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